segunda-feira, 24 de outubro de 2016

ALFARRÁBIOS


I_
eu e nosso pai
atracados como crianças
a festa da chuva;
e dançamos e dançamos...
e continuamos a dançar
alfarrábios que guardo
(e nunca guardarei )
enquanto houver e não mais houver
pancadas nesse coração de estradas
II-
na pista do homem de casacas,
reinam eu e minha mulher,
reina o que o eterno jamais esquece,
e esquece porque o esquecer mora
nos neurônios das coisas
III-
orfeu e eurídice,
cariocas,
personas unidas pelo umbigo,
pela musica orquestrada pela turba
sob as entranhas da arte
nada mais que humana
IV-
as meninas de dentro
e as meninas de fora;
são elas que se multiplicam
quando meu amor diz nos sonhos
que sonha com outro,
eu não controlo sentimentos,
apenas os interpreto
ao meu modo,
mas se ela sonha no meu sonho,
é provável que o traidor onírico seja eu,
mais medo do que ameaças de perda,
o estranho menino inseguro
que quase sempre se considerou horrível,
vez por outra,
abandona o seu conquistado cisne
V-
a resina da vela,
seguramente se espalha,
cobre o verso,
o seduz a ser o lírio e a tulipa,
a estrada apinhada de brilhantes
IV-
miro os olhos de meu amor,
as mãos da mata
crescida no cimento dos dentes,
da língua untada no limo entumecido
cravado no ninho que se abre
entre o triângulo
formado pelo pequenos grandes lábios,
seiva, sumo,
néctar mais que quente
vindo da nuvem rósea
que é a fêmea do peixe dourado
( que sou eu...
( EDU PLANCHÊZ )

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