domingo, 28 de agosto de 2016

Diego El Khouri, és o mito descalço, 
bem vestido com as vestes da noite única

levantando a coluna e o pescoço


triste, melancólico,
cheguei a conclusão que perdi 
por uns tempos o foco,
o trabalho, a missão;
repensando, revendo, 
levantando a coluna e o pescoço,
alterando a programação dos neurônios,
ligo as pontas dos fios, refaço as soldas,
me religo a tomada
vivi de teorias por alguns verões invernos,
mas sem elas não chegaria nesse agora,
não teria elementos para tencionar o arco,
dedilhar a lira do que nunca deixei de fazer
o mundo pede o jovem, o eternamente jovem,
mas se o jovem não envelhecer,
não haverá grandes árvores sobre a terra,
pais e mães, construções fortalecidas

 ( edu planchêz )

redefinindo

redefinindo o nível da conversa com a flor,
camisa aberta para as montanhas,
para a mulher minha


( edu planchêz )

falas


"o sangue é a rosa da união misteriosa",
o marco perfeito de nosso encontro,
a fênix de tudo que gira,
o umbigo ártico dos grandes ventos
região intocada pelo imperfeito,
sorte, 
ar intenso vindo dos pulmões do que falas

( edu planchêz )

das canções que cantas


eu tenho ciúmes até de tua sombra, assumo,
assumo o desvairado amor,
a arrepiante lambida 
e os goles da cerveja cintra,
as tardes que toco flauta no ponto de ônibus
para que o macarrão apareça em nossos pratos
nada fácil, tudo fácil, mais saboroso que o sabor,
que a magnânima bondade de teus lábios
e eu soprei minha flauta de cristais derretidos,
e eu soprei minha flauta de creme de leite e amoras
eu tenho ciúmes até de tua sombra,
dos muitos que te desejam,
das canções que cantas

( edu planchêz )

domingo, 14 de agosto de 2016

henry salvador


henry salvador, 
na sacada do apartamento do copacabana palace,
olhando para caena, para os retratos, 
para os espelhos do que viria ser a nova ilha,
a canção da eternidade, da sua eternidade,
da eternidade dos amores das muitas copacabanas


 ( edu planchêz )

sábado, 13 de agosto de 2016

MEDO


gostaria de não pensar nem na vida 
nem na morte comum a todos,
vejo-me tremendo de medo, 
apavorado com esse pensamento,
com esse estado inevitável a todos os viventes

mas aqui no meu ventre de fogo, 
na fé que me trouxe até essa idade, 
me resta respirar, 
voltar meus olhos simples 
para os olhos de dentro, 
morrer ou dançar com os meus fantasmas

meus fantasmas compreendem 
o que eu não compreendo,
nenhuma voz poderá me dizer,
meus fantasmas que não são fantasmas 
nada compreendem,
pois não passam de fantasmas

( edu planchêz )

tridentes do solo


rio madeira sem lei,
é pau na tua obra,
é água leitosa no azeite,
nos candelabros reis
rio ferro imantado,
relâmpago caindo,
nele, nas casas de força do cérebro,
das lanças, do sal que some
e ergo essa lança,
esse cetro,
clamando os nomes
dos raios,
memórias fincadas nas labaredas
dos tridentes do solo

( edu planchêz )

eu o mestre não mestre das palavras livres escravas


eu o mestre não mestre das palavras livres escravas,
dos gazes sólidos da alma não alma totalmente alma,
eu o mestre das vertigens sentidas na raiz, 
no reino subterrâneo, nos meandros
mas percebo que não sou nada,
súdito dependente do sabor vigor
dos legumes e dos cereais,
das tonturas de teus beijos,
das extremas tormentas,
das visagens desconcertantes

( edu planchêz )

aranhas dos pesadelos


o velho homem cabeça de livros,
o velho bago do algo que ora como
contando os dedos,
contando as lajotas lantejoulas,
os garfos e a colheres,
as palavras que vou encontrando nas coisas,
as coisas que boiam nas palavras,
nos charcos, nas secas luzes
por ser muito poeta,
por rosnar nas crostas da nuca do nunca
minha bela devora desenhos,
quadrinhos animados,
personagens surreais e cruéis,
comedores de pães recheados
com as aranhas dos pesadelos

 ( edu planchêz )

Diego El Khouri, velho irmão de pajelanças


Diego El Khouri, velho irmão de pajelanças
e caramujas sonolências,
de arbustos e tonéis de ácidos,
aqui vivendo os zunidos das horas, o arrulho da pança
alimentada pelo queijo que acabei de roubar,
continuo o mesmo Zapata, pistoleiro súbito,
homem-tarantula das negruras,
espinhoso escaravelho
Alvuras nas quentes redes dos arcos
onde a iris se esconde,
onde me escondo com minha ama de leite,
das ladroagens da morbidez dos roedores de dinheiro,
da astúcia ornamental dos mulambos da velha família
oriunda da formiga cortadeira e do coco do bandido
do cavalo que nunca leu nem bula de remédios
Caro amigo, os azulejos do nada pestanejam
cá nas ganancias de ver-te em breve
envolto em anéis de ardumes
e sedas embebecidas de perfumes

 ( edu planchêz )

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

02:57


mais uma vez, cá por essa ainda existência,
me encontro com o cavalheiro da morte,
com mais uma linha divisória,
o homem que desenho, o homem que desenhei,
e que continuarei a desenhar
o que me é real, e o que não me é,
tempo, para respirar
volto ao contrário dos ponteiros do relógio

 ( edu planchêz )

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

H A R O L D U S D C A M P U S


No leito da valeta funda mora a mulher cara-de-canoa
que prende o condão do critoris nas molúscas estrelas
do vento cão

Há um bilhão de anos-luz-de-vela
ela partira mais de trinta filamentos
pensando na invenção da lâmpada fria

Falemos agora e nunca do jogo de dados
A soma do oito e meio com vinte e quatro
e do sete com o cinco
resulta no absurdo sistema que procriou a poesia concreta

A colisão do meu com a tua
Em tudo
Em nada
Resulta

Vamos mudar de assunto!
Busquemos o ardil e a curva mais propícia para cravar os lábios!
Nem tanta poeira assim!
É possível que essa suposta visão
se dê por conta do ângulo escolhido para a penetração

A cinza pena do pássaro agosto
reduz a carbono o relógio
e os olhos que olham o relógio

Meu amigo Ladislau afirma:
O Universo paralelo que concede um centavo
É o mesmo que enterra nos vãos
Orion e a conjunção de escorpião com touro

Leio o que vou escrever pelas próximas garfadas
amado pelo cimento e pelas amoras

( edu planchêz )

por pouco


verde água azul oceano,
nada de roupas nos nossos panos,
nada de farpas nas cavadas visões
do mundo outro mundo esse mundo

se eu te rego com meus pregos,
se eu remexo e remexo nas cinzas,
nos beiços da flor,
na cortina que nos une e desune...

o poeta tudo vale, nada vale
porque vê com outras mãos
o que a maioria ignora
mesmo sendo sacerdote,
mesmo sendo allen ginsberg
dos tendões aos alicerces,
das maceradas vísceras aos galhos,
por pouco não te toco

( edu planchêz )

torre de lanternas


jatos de Marcel Duchamp escorrem
pelas paletas desse rosto,
por minha mãe vítria,
nas orquídeas

trapos de papéis se unem a letras,
sílabas desmembradas do tempo futuro
rio de pincéis aztecas,
tabocas flutuam,
são varetas, flechas e flautas

mare de espelhos,
nossa cama, nossa sopa,
o creme de ervilhas

formas, arte do hoje,
da cratera querida de minha alma,
alma offside,
alma torre de lanternas

 ( edu planchêz )

CASA


no mar, onde todos os rios se encontram,
estou, estás...
amada, 
fluxo fino de sândalo,
jambo suspenso nos arcadas nuvens,
belos volteios dos escudos
da casa de luz que nos protege


( edu planchêz )